quarta-feira, 18 de abril de 2018

T1 N° 708 : A CASA DE HADES

LX

JASON

ENCONTRARAM LEO NO TOPO DAS fortificações da cidade. Ele estava sentado em uma cafeteria ao ar livre, com vista para o mar, bebendo café e vestindo… uau. Déjà-vu. A roupa de Leo era idêntica à que ele usava no dia de sua chegada ao Acampamento Meio-Sangue: calça jeans, camisa branca e uma velha jaqueta militar. Só que aquela jaqueta havia sido queimada meses antes. Piper quase o derrubou da cadeira com um abraço. — Leo! Deuses, onde você esteve? — Valdez! — O treinador Hedge sorriu. Então, pareceu se lembrar de que tinha uma reputação a zelar e forçou uma carranca. — Se você voltar a desaparecer assim, seu moleque, vou espancá-lo! Frank deu um tapa tão forte nas costas dele que Leo fez uma careta de dor. Até mesmo Nico apertou-lhe a mão. Hazel beijou-o na bochecha. — Pensamos que você estivesse morto! Leo conseguiu esboçar um leve sorriso. — Oi, galera. Que isso, estou bem. Jason podia perceber que ele não estava bem. Leo não os olhava nos olhos. As mãos dele estavam perfeitamente imóveis sobre a mesa. As mãos de Leo nunca ficavam paradas. Toda a energia parecia ter sido drenada de seu corpo e substituí​da por uma espécie de tristeza melancólica. Jason se perguntou por que sua expressão lhe parecia familiar. Então percebeu que Nico di Angelo ficara da mesma forma após confrontar Cupido nas ruínas de Salona. Leo estava com dor de cotovelo. Enquanto os outros foram puxar cadeiras das mesas próximas, Jason se inclinou e apertou o ombro do amigo. — Ei, cara, o que aconteceu? — perguntou. Os olhos de Leo se voltaram para o grupo. A mensagem era clara: Aqui não. Não na frente de todos.
— Virei um náufrago — disse Leo. — É uma longa história. E quanto a vocês? O que aconteceu com Quione? O treinador Hedge riu com desdém. — O que aconteceu? Piper aconteceu! Estou lhe dizendo, esta garota tem talento! — Treinador… — protestou Piper. Hedge começou a contar a história, mas na versão dele Piper era uma assassina lutadora de kung fu e havia muito mais boreadas. Enquanto o treinador falava, Jason observou Leo com preocupação. Aquela cafeteria tinha uma vista perfeita para o porto. Leo deve ter visto o Argo II chegar à costa. No entanto, ficara ali bebendo café — algo de que ele nem mesmo gostava —, esperando que eles o encontrassem. Leo não era assim. O navio era a coisa mais importante de sua vida. Quando viu que tinham ido resgatá-lo, Leo deveria ter corrido até as docas, gritando com toda a força em comemoração. O treinador estava descrevendo como Piper derrotara Quione com um chute à Chuck Norris quando ela o interrompeu: — Treinador! Não foi nada disso que aconteceu. Não poderia ter feito nada sem Festus. Leo ergueu as sobrancelhas. — Mas Festus está desligado. — Hum, então — disse Piper. — Eu meio que o ativei. Piper explicou sua versão dos acontecimentos — como ela reiniciara o dragão de metal com o charme. Leo tamborilou os dedos na mesa, como se um pouco de sua antiga energia estivesse retornando. — Não deveria ser possível — murmurou ele. — A menos que as atualizações permitam que ele responda a comandos de voz. Mas se agora ele está permanentemente ligado, isso significa que o sistema de navegação e o cristal… — Cristal? — perguntou Jason. Leo fez uma careta. — Hum, esquece. De qualquer forma, o que aconteceu depois que a bomba de vento explodiu?
Hazel continuou a história. Uma garçonete se aproximou e ofereceu os cardápios. Logo estavam mastigando sanduíches, bebendo refrigerantes e aproveitando o dia ensolarado quase como um grupo de adolescentes normais. Frank pegou um panfleto turístico, preso sob o suporte de guardanapos, e começou a lê-lo. Piper deu um tapinha no braço de Leo, como se não pudesse acreditar que ele estivesse realmente ali. Nico estava na ponta da mesa, observando os pedestres em busca de possíveis inimigos. O treinador Hedge mastigava os saleiros e pimenteiros. Apesar da reunião feliz, todos pareciam mais abatidos — como se estivessem refletindo o humor de Leo. Jason nunca percebera de fato quão importante era o senso de humor dele para o grupo. Mesmo quando as coisas estavam superdifíceis, sempre podiam contar com Leo para alegrar o ambiente. Agora, parecia que toda a equipe perdera o ânimo. — Então Jason domou os venti — terminou Hazel. — E aqui estamos. Leo assobiou. — Cavalos de ar quente? Caramba, Jason. Então, basicamente, você acumulou um bocado de gás até chegar a Malta, e então soltou. Jason franziu a testa. — Sabe, não soa tão heroico quando você fala desse jeito. — Sim, bem. Quando dou o ar da minha graça, pode ter certeza de que ele vai ser quente. E ainda estou me perguntando, por que Malta? Eu meio que cheguei aqui na jangada, mas isso foi uma coisa aleatória, ou… — Talvez por causa disto. — Frank bateu no panfleto. — Diz aqui que Calipso morou em Malta. Leo ficou pálido. — O-o quê? Frank deu de ombros. — De acordo com isto, ela morava na ilha de Gozo, ao norte daqui. Calipso é um mito dos gregos, não é? — Ah, um mito dos gregos! — O treinador Hedge esfregou as mãos. — Talvez tenhamos que lutar com ela! Temos que lutar com ela? Porque eu estou pronto. — Não — murmurou Leo. — Não temos que lutar com ela, treinador. Piper franziu a testa.
— Leo, o que há de errado? Você parece… — Não há nada de errado! — Leo se levantou. — Ei, precisamos ir. Temos trabalho a fazer! — Mas… onde você esteve? — perguntou Hazel. — De onde você tirou essas roupas? Como… — Caramba, moças! — exclamou Leo. — Agradeço a preocupação, mas não preciso de duas mães extras! Piper sorriu, hesitante. — Tudo bem, mas… — Temos navios para consertar! — disse Leo. — Festus para regular! Deusas da terra para ganhar socos na cara! O que estamos esperando? Leo está de volta! Ele abriu os braços e sorriu. Leo estava fazendo uma tentativa corajosa, mas Jason podia ver resquícios de tristeza em seus olhos. Algo acontecera com ele… algo relacionado a Calipso. Jason tentou se lembrar da história. Ela era um tipo de feiticeira, talvez como Medeia ou Circe. Mas se Leo escapara do covil de uma feiticeira malvada, por que parecia tão triste? Jason teria que conversar com ele mais tarde para se assegurar de que seu amigo estava bem. Por enquanto Leo claramente não queria ser interrogado. Jason se levantou e colocou a mão no ombro dele. — Leo está certo. Devemos ir. Todos entenderam a deixa e começaram a embrulhar a comida e a terminar as bebidas. Subitamente, Hazel ofegou. — Pessoal… Ela apontou para o nordeste. A princípio, Jason não viu nada além do mar. Então, um risco de escuridão cortou o ar como um raio negro — como se noite cerrada tivesse rompido através do dia. — Não vejo nada — resmungou o treinador Hedge. — Também não — disse Piper. Jason olhou para o rosto dos amigos. A maioria estava confusa. Nico era o único que parecia ter notado o raio negro. — Não pode ser… — murmurou Nico. — A Grécia ainda está a centenas de quilômetros de distância.
A escuridão apareceu de novo, momentaneamente desbotando as cores do horizonte. — Você acha que é Épiro? Todo o corpo de Jason formigava como quando tomou um choque de mil volts. Ele não sabia por que conseguia ver os raios de escuridão. Não era um filho do Mundo Inferior. Mas estava com uma sensação muito ruim. Nico assentiu. — A Casa de Hades está aberta para negócios. Poucos segundos depois, um ruído estrondoso chegou até eles, como tiros distantes. — Já começou — disse Hazel. — O quê? — perguntou Leo. Quando o raio seguinte apareceu, os olhos dourados de Hazel escureceram como uma folha no fogo. — O esforço final de Gaia — respondeu ela. — As Portas da Morte estão trabalhando a todo vapor. O exército de Gaia está entrando no mundo mortal em massa. — Nunca conseguiremos — disse Nico. — Até chegarmos lá, já haverá muitos monstros. Jason estava determinado. — Podemos vencê-los. Nós viajaremos rápido. Encontramos Leo, ele nos dará a velocidade de que precisamos. — Jason olhou para o amigo. — Ou você só apareceu para dar o ar da sua graça? Leo deu um sorriso torto. Seus olhos pareciam dizer: Obrigado. — Hora de voar, crianças — disse ele. — Tio Leo ainda tem alguns truques na manga!

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