26. Por onde ir?
Leandro encontrou o bilhete sob o mouse. E não sabia se ficava feliz ou se chorava! — Santa Filomena! — gritou lá de cima da escada, o bilhete nas mãos, lendo pela segunda vez. Não tinha dúvida: a santa o fizera se aproximar da escrivaninha do computador e puxar para fora a parte móvel que sustenta o teclado e o mouse. Luci subiu a escada na maior correria. Os olhos vermelhos de chorar. Arrancou o bilhete das mãos de Leandro e leu, soluçando, acariciando com o dedo as letras que o filho escrevera. O marido, rápido, foi até o telefone: — Dr. Asdrúbal, é o Leandro. Graças a Deus, dr. Asdrúbal, graças a Deus! Já sabemos onde ele está. Está indo para a chácara do meu sogro. Encontramos um bilhete... O delegado, do outro lado da linha, soltou um palavrão, comemorando. Disse que iria mobilizar a polícia e recomendou que eles tivessem calma, que tudo iria terminar bem. Agora era questão de tempo localizá-lo. Em seguida, Luci já falava com o pai, ao telefone. — Filha, é melhor eu ficar aqui, então, para, quando o Renato chegar, me encontrar na chácara. — Ah, papai... Por que foi acontecer isso? A culpa é minha. — E minha também, me perdoe. Depois trataremos disso. Mas ele vai chegar. Ele logo vai chegar, tenho certeza. A que horas será que o Renato saiu de casa? Leandro, depois, ligou para a escola, para Raul, para a vizinha, para a empregada, para o escritório dele e de Luci, inclusive para André, nos Estados Unidos, avisando a todos do bilhete encontrado. Sem que soubessem direito o que fazer, correram para a garagem e entraram no carro. Hesitaram um pouco. Quem sabe, poderiam encontrá-lo pelo caminho? Decidiram seguir para a chácara. Mas, por onde?, os dois se perguntaram, olhando-se nos olhos. Seria melhor o caminho do ônibus? Ele pegaria um ônibus? Ou o metrô? Como chegaria até a rodoviária? Venderiam passagem a um menor? Teria dinheiro? Será que pediu carona?
— Para que lado, agora? — Leandro parou o carro e perguntou para Luci. O desespero já começava a tomar conta do casal. — Calma, Luci. Vamos ficar calmos. Não vamos brigar um com o outro — falou Leandro, sentindo a irritação crescer depois de completarem várias voltas em torno dos quarteirões, próximos de casa. — A culpa é minha — disse Luci, chorando. — Por que fui discutir com o papai? — A culpa é de seu pai, por ser teimoso, por querer morar na chácara, por não ter vindo visitar a gente! — rebateu Leandro. Ficaram em silêncio, olhando para todos os lados. Mas, para qualquer lugar que olhassem, tinham a impressão de que Cláudio Renato jamais passaria por ali. Viraram uma esquina, seguiram até o final da avenida. Foram até a estação do metrô. Não sabiam se desciam, se iam até a bilheteria ou se aquilo era uma total perda de tempo. Depois, entraram na primeira rua, à esquerda. Só se ouvia o soluço sentido de Luci. Leandro, na direção, tentava se controlar. E assim, rodando em círculos, correndo mas avançando pouco, tomaram a rodovia que levava em direção à chácara. Quando notaram, estavam ambos rezando, em voz alta, as mesmas orações e preces que faziam enquanto o filho esteve desaparecido no episódio do sequestro.
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