segunda-feira, 23 de abril de 2018

T1 N° 765 : O MESTRE DOS GAMES

28. Flores da quaresmeira

Muito tempo depois, quando Cláudio Renato já não se interessava tanto por jogos eletrônicos e já se preparava para prestar o vestibular para a faculdade de Física, sempre que podia ia passar o fim de semana na chácara. Então, gostava de ajudar o avô, que já se cansava facilmente. Cabia a ele a tarefa de cuidar dos pássaros, distribuindo a comida nos comedouros, molhar os troncos das árvores, rastelar as folhas, cuidar das plantas e até cortar a grama, quando preciso. À noite, depois do banho e de um jantar gostoso sempre preparado pelo avô com coisas colhidas da horta, ambos sentavam-se na sala para assistirem a um filme. Vez ou outra, Cláudio Renato se esquecia da imagem na tela e olhava logo acima da TV. Lá estava o game portátil, sobre a estante, em destaque. No lugar mais nobre da casa. As visitas, quando entravam na sala e perguntavam para o dono da chácara, admiradas, se ele, com sua idade, gostava de jogar aquele jogo, seu Vito, por um momento, olhava para a estante. Abria um sorriso de avô e dizia, com muito orgulho, que o game era um presente especial que ganhara do neto. O melhor presente da sua vida.

FIM




Almanaque Vaga-Lume

O mestre dos games falou de situações reais, presentes na vida de todos nós. Descreveu, também, episódios fantásticos que fizeram os personagens e os próprios leitores questionarem se realmente aconteceram. Depois de acompanhar as aventuras de um garoto para salvar seu avô, agora você vai ler assuntos relacionados à narrativa. No Almanaque Vaga-Lume, além de curiosidades, você encontrará informações importantes sobre os videogames. E também vai ficar sabendo o que pensa a ciência sobre alguns mistérios que cercam a humanidade.




De controle na mão
Geração mais inteligente Alguns pesquisadores declaram que crianças que jogam videogame têm inteligência; superior à das que não jogam. De acordo com eles, os games ensinam a usar métodos científicos – como descobrir regras, trabalhar com hipóteses e encontrar soluções – e a relacionar os fatos em vez de pensar neles de forma isolada. Afirmam também que a prática do game aciona e aperfeiçoa a memória pela necessidade de o jogador decorar manobras, truques e senhas. Defendem ainda que, principalmente os games de ação, colaboram para um raciocínio cada vez mais ágil, ativando e exercitando muitas área do cérebro.
Pode fazer mal e pode fazer bem Jovens e crianças passam cada vez mais tempo envolvidos com videogames. Os pais se preocupam com o excesso de tempo que os filhos gastam entretidos nessa atividade. O maior medo é que fiquem viciados ou se prejudiquem pelo sedentarismo demasiado. Por outro lado, não é difícil entender essa entrega: com o controle nas mãos, o jogador comanda destinos, controla quase tudo que acontece. Alguns estudiosos afirmam que os jogos eletrônicos são capazes de influenciar o comportamento de crianças e adolescentes. Principalmente os jogos violentos, que poderiam estimular a agressividade porque banalizam a violência e a brutalidade. Outra má notícia é que os games podem viciar sim! Tanto é que, em vários países, existem até clínicas especializadas no tratamento desse tipo de vício. Para alguns médicos, muitos desses jovens que se viciam usam os jogos para fugir da realidade. Então, videogame não presta, certo? Não é bem assim. Esses jogos estimulam o desenvolvimento da percepção visual e da coordenação motora, ensinam a pensar logicamente, desenvolvem a memória e a capacidade de deduzir e de tomar decisões rápidas... desde que usados na dose certa. É... o problema está no excesso. E, cá pra nós, a vida não pode ser só o
videogame, não é mesmo?
Geração mais sedentária Videogame faz mal para a saúde. Você já ouviu isso? Na verdade, o que faz mal é passar um exagero de tempo, sentado, paradão, só movimentando as mãos no controle e os olhos na tela. O ser humano precisa se mexer, praticar atividades físicas para ser saudável. Acontece que, cada vez mais, crianças e adolescentes deixam de fazer exercícios para só jogar os games eletrônicos. Isso colabora para o aumento da obesidade. Fique esperto! Jogar videogame até faz bem, mas você também precisa jogar uma bola, dar umas raquetadas no pingue-pongue, nadar, correr, andar de bicicleta... E tudo isso no mundo real, combinado?
Jogar no lixo não é uma boa Os videogames evoluem e os jogadores sempre sonham com o modelo novo. No entanto, um console jogado fora vira lixo eletrônico, um tipo de resíduo muito prejudicial ao meio ambiente. De acordo com estudos feitos pelo Ibope, em 2005 havia 11,5 milhões de consoles no Brasil, dos quais 5,8 milhões eram antigos. Já pensou se eles parassem no lixo? Nada bom. O correto é tentar aumentar a vida útil do videogame antigo usando o por mais tempo. Você também pode dá-lo a alguém ou doá-lo para alguma instituição. Quem o ganhar vai agradecer muito e o meio ambiente também.
Era uma vez... o videogame Cláudio Renato tem um videogame de última geração e também não se separa do seu game portátil. Nos dias de hoje, as novidades seguem um ritmo alucinante, e novos consoles, cada vez mais interessantes, aparecem no mercado, despertando o desejo dos jogadores. Você consegue imaginar o mundo sem o videogame? É, parece difícil... mas esse tempo existiu. A ideia é até antiga: em 1949, o engenheiro alemão Ralph Baer, hoje conhecido como o pai dos consoles de videogame, teve a ideia de uma TV interativa que contivesse jogos eletrônicos, mas não deu certo. Na década de 1970, o mesmo engenheiro criou um jogo para ser conectado à TV. Em parceria com um amigo, fez surgir o primeiro game, o
Pong, um jogo muito simples se comparado a qualquer um dos dias de hoje. Simulava uma Partida de pingue-pongue usando graficamente uma bolinha luminosa e dois traços, que representavam as raquetes. A partir de então muitos outros jogos foram surgindo, cada vez mais evoluídos, consolidando o videogame como uma das diversões prediletas da garotada.
Um clássico na rede Jogos coloridos e com animações 3-D que quase parecem reais. Esse é o visual dos jogos de hoje, completamente diferentes dos primeiros games. Eles não eram coloridos, e as imagens eram muito simples, meio que quadradinhas. Depois a cor chegou, mas os gráficos continuaram bidimensionais (achatados) e com mais linhas retas que curvas. Na internet é possível conhecer e, claro, jogar esses antigos games. Talvez seus pais conheçam alguns. Vale a pena chamá-los para uma partida.
Tudo que forma o universo Você já deve ter estudado que quase tudo na natureza é formado por átomos, e que os átomos, apesar de invisíveis a olho nu, são formados por partículas ainda menores, os prótons, nêutrons e elétrons, certo? Mas será que essas minúsculas partículas são formadas por outras ainda menores? A Física Quântica afirma que tudo que existe, seja matéria, energia ou a gravidade é formado por partículas “menores que minúsculas” e que existem cinco tipos delas no universo. Será que algum dia vão descobrir outras partículas ainda menores que formam essas cinco?
Existem outros mundos? A experiência que Cláudio Renato viveu foi perturbadora. Aconteceu realmente ou foi tudo imaginado? Só seu avô acreditou nele. Já seus pais, a polícia e até o amigão Raul acharam a história o maior absurdo. Para o tio André, a ciência considera, sim, a possibilidade de existirem outras dimensões. Outras dimensões, com universos paralelos ao nosso... Não é estranho
pensar nisso? Quem começou a pesquisar esse tema foi o físico alemão Albert Einstein, que tentou relacionar eletromagnética e gravidade numa só teoria. Ele não conseguiu, mas um outro cientista propôs que seria possível essa relação se considerássemos um universo com quatro dimensões espaciais. Isso é bem estranho, porque tudo que conhecemos no universo é baseado em três dimensões espaciais: esquerda/direita; para cima/para baixo; para frente/para trás. Qual seria essa quarta dimensão? Uma direção a mais, desconhecida por nós. Segundo essa teoria, se a gente conseguisse andar nessa quarta dimensão, poderíamos chegar a qualquer ponto do mundo por atalhos. Já imaginou? Do Brasil à Lua em instantes... E como a gente não vê essa outra dimensão? Oskar Klein, um físico sueco, sugeriu que essa quarta dimensão estaria escondida, enrolada em si mesma, de forma microscópica. Esses estudos científicos parecem até mais doidos do que tudo o que aconteceu com o Cláudio Renato, não é mesmo?
Que ciência é essa? Tudo que foi apresentado nesse texto e abordado na Física Quântica, a ciência que estuda os componentes da matéria e o comportamento o movimento deles. Seu objeto de estudo é tão pequeno que nossas medidas do tempo, espaço e velocidade não conseguem medir com precisão os fenômenos estudados por ela Deve ser mesmo uma ciência muito interessante. Tanto que tio André entrou na faculdade para estudá-la e Cláudio Renato está se preparando para fazer o mesmo.
Eu já vivi isso antes! No capítulo 17, Cláudio Renato tem a sensação de já ler vivido a mesma experiência, sente que aquilo já aconteceu antes. A isso chamamos de déjà-vu, que em francês significa “já visto” Dezenas de teorias tentam explicar como e por que isso ocorre, mas nenhuma é 100% aceita. Acredita-se que o déjà-vu pode ter relação com distúrbios mentais, momentos de tensão e estresse ou sonhos quo antecipam o que vai acontecer.
Vida de todo ser Seu Vito acredita que todo ser se comunica e entende o que a gente diz e faz, seja ele um animal ou uma planta. Por isso mesmo seu Vito cuida de todos os seres vivos que compartilham seu quintal, e tem o maior respeito por eles. Você vai dizer: Ah! Que ideia mais simplória... Será mesmo? Se a gente adotar a linha de raciocínio da Física Quântica, vamos chegar à conclusão de que somos formados pelo mesmo tipo de partícula que um animal, uma planta e até uma pedra. Isso pode parecer maluquice, mas dá para ser usado de um jeito bem bacana: sem conhecer Física Quântica, mas acreditando que de alguma forma todos são iguais, seu Vito considera todos os seres vivos como seus amigos, cercaos de cuidados e carinho. Ele faz de seu quintal uma área de respeito e proteção à vida. Um exercício muito interessante para vivermos em harmonia com o meio ambiente, não é mesmo? Que tal a gente seguir essa ideia simplória de seu Vito?
Diálogo com animais. É possível? Quando o gavião decepou a cabeça do passarinho de estimação de seu Vito, ele disse que teve uma conversa de homem para homem com o malvado e a ave entendeu perfeitamente o seu recado. Mas será que os animais são capazes de entender o que falamos e de se comunicar? Uma cadela brasileira chamada Sofia foi presenteada com um painel que contém oito teclas que emitem sons como “quero água”, “quero passear”, “quero carinho”... Ela aprendeu o significado de cada tecla e é capaz de expressar os seus desejos. É de fazer a gente pensar, não é?





Afonso Machado

"Era assim. Sábado bem cedinho e a gente já estava com os times escolhidos. Bola com Bidefa, que toca pra Bombeiro, que passa pra Buião... Aos vencedores, tínhamos que pagar tubaína e pão com molho, no bar de seu Antônio. Jogávamos até a noitinha, até a hora em que ninguém mais enxergava a bola. Depois, muitos iam para casa assistir televisão e alguns liam livros. Eu era um desses, sempre gostei dos livros. Hoje, o que se diz é que poucos passam um sábado jogando futebol ou se divertindo em turma e muitos ficam sozinhos na frente de um computador ou de um videogame. Acho que as coisas mudaram sim, mas sempre existirão aqueles que, independentemente de uma coisa ou outra, continuarão gostando de ler. Para esses escrevi O mestre dos games. A história foi inspirada no que aconteceu com um amigo, que é vizinho, e é avô. O livro trata, sobretudo, da relação avô e neto e da interação fantástica desse neto com o seu videogame. Um fato sempre me intrigou desde aqueles tempos de garoto. Lembro-me que saía cedo para jogar bola e via meu avô na varanda de casa. Voltava para o almoço já com a certeza de que o encontraria lá. Como conseguia ficar tantas horas sozinho, na varanda, simplesmente olhando a vida? Essa é uma daquelas perguntas, creio, que a literatura pode ajudar a responder. Por isso, também escrevo livros. Talvez um avô moderno e morador de cidade grande fique menos tempo numa varanda do que diante de uma TV, de um computador, ou até de um videogame. Na verdade, isso não importa, porque acredito que sempre será mágica a relação entre avô e neto. O que gostaria de saber responder é se, quando for avô um dia, eu serei capaz de fazer como ele: me deixar ficar numa varanda, sozinho, por horas, simplesmente olhando a vida, e mesmo que não consiga, se serei tão legal quanto ele foi para o seu neto. Nasci em Minas, mudei para o Rio e logo depois para São Paulo, onde passei parte da infância e a adolescência jogando bola nos campinhos, estudando e lendo. Hoje, sou publicitário e escritor. O mestre dos games é meu primeiro livro juvenil."


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