19. Instante derradeiro
— É o que você quer? Então vou te matar, filho de um cão! Escreve o bilhete ou vai tomar um tiro bem no meio da fuça! Seu Vito fechou os olhos. — Minha paciência acabou! É a última vez. Escreve! Tantas imagens passaram pela mente de seu Vito naquele instante derradeiro... Luci, a igreja decorada com flores, o clarão das fotos, a cauda longa do vestido branco, enquanto a conduzia passo a passo em direção ao altar. E o dia em que viu, através do vidro do berçário, a enfermeira com o bebezinho que acabara de nascer. Leandro ao seu lado, bobo, feliz, acenando. A enfermeira chegou mais perto do vidro com o bebê no colo e, como se fosse uma espécie de oferenda, desprendeu o pano que cobria o sexo, desvendando o homem que daria continuidade ao seu sangue, à sua família. Seu garoto, seu companheiro. O primeiro neto. Homem, como ele! — Escreve, filho de uma cadela... ou eu mato você! Dito isso, seu Vito ouviu a arma sendo engatilhada. Abriu os olhos e viu aquele homem na sua frente esticar ainda mais o braço e aproximar o cano do revólver do seu rosto, para mirar bem no meio de sua testa. Seu Vito sorriu. Um sorriso vago, distante, contemplativo, que poderia significar felicidade. Pegou o papel de embrulho e começou a picar devagarzinho, olhando bem nos olhos do chefe dos bandidos, exatamente como havia feito momentos antes. Não, não tinha mais nada a perder na vida. Seguiu-se um silêncio como se o tempo tivesse congelado. Um pássaro cantou, longe. A moça cobriu o rosto com as mãos. O parceiro, ao lado, levantou-se assustado, quebrando o silêncio ao derrubar a cadeira. Assim que acabou de rasgar o papel, ajoelhado no chão, seu Vito já não sentia seu corpo. Seu rosto era apenas um pedaço de carne que, estranhamente, parecia querer, por si só, aproximar-se ainda mais do cano frio daquele revólver. Tudo que restava a fazer tinha sido feito. Seu Vito então fechou os olhos.
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