segunda-feira, 23 de abril de 2018

T1 N° 760 : O MESTRE DOS GAMES

23. Operação Resgate

O DIÁRIO DE PONTE ALTA > FOLHA POLICIAL, DIA 22 Exclusivo! Delegado conta tudo sobre o sequestro A equipe de investigadores comandada pelo dr. Asdrúbal, delegado titular do 1º DP, através de uma operação considerada de alto risco pelo secretário de Segurança Regional de Polícia, conseguiu libertar do cativeiro Vito Henrique Cavalcante, viúvo, 75 anos, residente no loteamento Fazenda da Ilha, em Ponte Alta, e Cláudio Renato Cavalcante Marques, 13 anos, residente na capital, neto de V.H.C. Ambos estavam desaparecidos desde a madrugada do último dia 8. As ações de busca começaram em seguida ao comunicado do desaparecimento, feito pelos pais do garoto. Avô e neto tinham a intenção de passar o dia num pesqueiro e, quando deixavam a chácara, na caminhonete, de propriedade de V.H.C., foram surpreendidos por três elementos encapuzados. Capturados em pleno cativeiro, os delinquentes confessaram o crime e foram identificados pela polícia. São eles: Francisco Caetano de Barros, 24 anos, apontado como o chefe do grupo e mentor do sequestro; sua namorada, de 16 anos, e Aparecido Cardoso Matias da Silva, de 68 anos. Os três foram transferidos para a capital e encontram-se detidos nas dependências da Secretaria Regional de Polícia. Com eles foram apreendidos dois revólveres calibre 38, facas e munição.

A OPERAÇÃO DE RESGATE O cativeiro, um barraco de madeira, foi localizado nas proximidades do bairro de Penteado, dias após o sequestro, numa ação rápida e eficiente dos investigadores. Segundo o delegado — em depoimento especial para nossa equipe de reportagem —, como a polícia não tinha pistas do paradeiro de C.R.C.M., uma vez que as evidências indicavam apenas a presença do avô sob o poder dos sequestradores, uma ordem de invasão poderia ser precipitada, pois, além de prejudicar as investigações, colocaria vidas em perigo. A polícia vinha investigando algumas hipóteses sobre o desaparecimento do garoto. A principal suspeita era de que estivesse detido em local ignorado, numa negociação entre quadrilhas.

SURPRESA AO INVADIR O ESCONDERIJO A ordem de invasão, porém, foi decretada na última quarta-feira, por volta das 17 horas, quando se ouviu o disparo de um tiro no interior do esconderijo, desencadeando a ação policial. Segundo o delegado responsável pela Operação Resgate — em declarações prestadas com exclusividade para nossos repórteres —, ao adentrarem o cativeiro, os próprios policiais foram surpreendidos com o que encontraram. Em seu interior estavam os três sequestradores e a vítima V.H.C., conforme o previsto, mas a surpresa foi a presença de C.R.C.M. junto a eles, até então dado como desaparecido.

NETO AJUDA A SALVAR A VIDA DO AVÔ Numa confissão fria às autoridades — conforme o relato do delegado a O Diário de Ponte Alta —, o chefe do grupo, E.C.B., afirmou ter a arma apontada para V.H.C. por ele não concordar em redigir um bilhete tratando das negociações do resgate. Segundo a confissão, como V.H.C. relutava em obedecer, houve o disparo e nesse exato momento o garoto entrou no barraco e se jogou sobre o avô, que, ainda assim, teve o joelho esquerdo atingido pelo projétil. Imediatamente a polícia invadiu o esconderijo a tempo de imobilizar os bandidos e impedir novos disparos.

A VERSÃO DO GAROTO Embora O Diário de Ponte Alta tenha sido impedido de ouvir do próprio garoto a versão dos fatos, uma vez que os pais alegaram que o filho estava debilitado e com problemas de saúde, a reportagem teve acesso às declarações que prestou às autoridades, registradas no Boletim de Ocorrência nº 4.317. Segundo C.R.C.M., ele não esteve perdido na mata como afirma o delegado. Ao contrário, estava determinado a encontrar o avô e, para isso, fez uso de seu game portátil — aparelho eletrônico que utiliza cartuchos recarregáveis com jogos de aventura. De acordo com o depoimento do garoto — considerado confuso pelo delegado, porém totalmente justificável pelos médicos, dada a situação de pânico em que se encontrava —, a movimentação das teclas do aparelho e as consequentes sinalizações na tela contribuíram para que ele conseguisse se livrar dos sequestradores, para que optasse pelos melhores caminhos e, posteriormente, obtivesse a ajuda de entidades e até seres alados para localizar o esconderijo e se lançar sobre o avô, salvando-lhe a vida.

 A VERSÃO DAS AUTORIDADES Dr. Asdrúbal confirmou que o garoto encontra-se em estado de choque — decorrência normal, de acordo com a literatura médica, de quem vivencia situações de perigo iminente. Por isso, segundo o delegado, a versão contada por C.R.C.M. não condiz com a realidade dos fatos. Para as autoridades, conforme consta no B. O., o garoto passou os dias perdido na mata, numa região de difícil acesso, na serra existente nas proximidades de Penteado. Possivelmente, vagando ao acaso, deparou com o barraco onde o avô se encontrava prisioneiro. Num ato de desespero e coragem, ele invadiu o esconderijo. Consta ainda no B. O., segundo o testemunho de V.H.C., avô do garoto, que, justamente no momento de maior tensão, quando o chefe do grupo tinha a arma apontada para sua cabeça e estava prestes a efetuar o disparo, o neto invadiu o barraco jogando-se sobre ele e desviando-o do tiro, que, assim, acabou por atingir seu joelho esquerdo.

DELEGADO RECONHECE FALHAS NA OPERAÇÃO RESGATE Num desabafo à nossa reportagem, o dr. Asdrúbal não conseguiu disfarçar sua perplexidade diante do acontecido. Para ele, mais do que sorte, foi um verdadeiro milagre que vidas tenham sido salvas. Não existe, para o delegado, argumentos racionais que possam explicar um sincronismo tão preciso dos fatos. O que se deu foi uma sequência de acasos, conforme disse, que incluem a presença da polícia pronta para "estourar" o cativeiro e o súbito aparecimento do garoto, adentrando o esconderijo, no momento do disparo. "Aconteceu um verdadeiro milagre", fez questão de repetir o delegado. Apesar das críticas feitas pelo secretário de Segurança Regional de Polícia à equipe que participou da Operação Resgate, por colocar em perigo a vida dos envolvidos no sequestro, as demais autoridades da Corporação — ouvidas por nossos repórteres, mas que preferiram não se identificar — consideraram bemsucedida a operação sob a responsabilidade do dr. Asdrúbal. Questionado por O Diário de Ponte Alta sobre as críticas feitas pelo secretário, no que toca ao planejamento da operação, o dr. Asdrúbal limitou-se a concordar com o secretário. Segundo ele, o atraso na ordem para os policiais "estourarem" o cativeiro e a não detecção do momento exato em que C.R.C.M. invadiu o esconderijo são falhas de conduta pelas quais se julga inteiramente responsável. O delegado demonstrou sinceridade ao alegar que se distraiu quando tentava identificar sons que considerava estranhos e que vinham de uma árvore. A desconcentração momentânea, segundo ele, possibilitou que os fatos
ocorressem. "Por outro lado", ponderou o dr. Asdrúbal, levantando uma importante questão ao término de nossa entrevista, "caso houvesse impedido a entrada de C.R.C.M. no cativeiro, o desfecho do sequestro de Penteado não poderia ter sido pior?". As conclusões ficam para os leitores de O Diário de Ponte Alta.

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