15. Alarme
Ao acordar, Renato se sentia outro. Disposto, transbordante de energia. Parecia ter dormido uma eternidade. Caramba! Durante quanto tempo havia dormido? Assim que abriu os olhos, demorou um segundo para se localizar. Ainda deitado, olhou ao redor e, aos poucos, foi percebendo as paredes, o quarto, os lençóis. De repente, lembrou-se de tudo. Que dias mais loucos! De olhos bem abertos, o desânimo começou a tomar conta de Renato. Ainda deitado, pensou que era como se sua vida tivesse virado do avesso. Uma total inversão na ordem das coisas. Porque agora ao acordar, concluiu, era como se começasse o pesadelo. Não, realmente, não dava para entender o que estava acontecendo com ele, nem com ele nem com o mundo. Por que ele e o avô teriam sido escolhidos? Não, não havia nada pior do que se sentir perdido, sozinho e com medo. E ter de fazer alguma coisa, mas sem saber como agir para encontrar o avô. O quarto continuava na penumbra, embora o sol brilhasse forte, lá fora. De um canto, soprava uma brisa que Renato sentia no rosto. Os lençóis e o travesseiro ainda quentes, amoldados à forma de seu corpo, convidando a voltar a dormir. A dormir e a esquecer. Esquecer, esquecer, esquecer...
* * *
Renato olha para o teto. No alto, no canto superior direito, confere o timer: 53, 52, 51, 50. É quando o alarme dispara: uau, uau, uau, uau! O som estridente dispara, agonizante, mostrando que seu tempo está chegando ao fim: 42, 41, 40, 39. Precisa correr, sair dali o mais rápido possível!
É o teto que desce? É um beco sem saída? Um túnel? Sim, a luz no fim do túnel! Mas, quanto mais corre em direção à luz, mais parece que ela se distancia. Não, não é um túnel o lugar onde ele está. Mas um corredor que vai se estreitando, em que ele mal cabe dentro. Uma caixa! Sim, uma caixa comprida de concreto em que o teto desce. Desce sobre ele! O teto desce rapidamente sobre sua cabeça, ao som repetitivo do alarme — uau, uau, uau —, registrando os segundos que ainda faltam para... esmagá-lo?! 21, 20, 19, 18... Renato respira. Pensa. Rápido: é preciso decidir o que fazer! Quando sente o teto quase roçar seus cabelos, ele se joga no chão. Agacha, engatinha, se arrasta, se esforça como cobra enlouquecida, se estica todo como raiz de árvore, as pontas dos dedos quase a tocarem a luz, quando um peso insuportável nas costas começa a espremê-lo devagar, moê-lo devagar. Estanca, sufoca. E tudo escurece. Até, por fim, se sentir esvair como líquido.
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