LV
ANNABETH
DEPOIS DE TER CAÍDO NO Tártaro, pular cem metros até a Mansão da Noite devia ter passado rápido. Em vez disso, o coração de Annabeth pareceu desacelerar. Entre as batidas, teve tempo de escrever o próprio obituário. Morreu Annabeth Chase, aos dezessete anos. TUM-TUM. (Supondo-se que seu aniversário, doze de julho, tivesse passado enquanto estava no Tártaro, mas, na verdade, não tinha a menor ideia.) TUM-TUM. Annabeth faleceu em decorrência de ferimentos graves sofridos ao pular como uma idiota no abismo do Caos e se estatelar no hall de entrada da mansão de Nix. TUM-TUM. Deixou pai, madrasta e dois meios-irmãos que mal a conheceram. TUM-TUM. Em vez de flores, favor enviar donativos para o Acampamento Meio-Sangue, se é que Gaia já não o destruiu. Seus pés tocaram o chão. O impacto fez suas pernas doerem, mas cambaleou para a frente e logo estava correndo, puxando Percy atrás de si. Acima deles, no escuro, Nix e seus filhos ainda discutiam e gritavam. — Eu os peguei! Ai! Meu Pé! Parem! Annabeth continuou a correr. Já que não conseguiria enxergar de qualquer jeito, fechou os olhos. Resolveu recorrer aos outros sentidos: ouvir à procura do eco de espaços abertos, sentir as correntes de ar que sopravam em seu rosto em busca de algum cheiro de perigo, fumaça, veneno ou do fedor de demônios. Não era a primeira vez que mergulhava na escuridão. Imaginou-se de volta aos túneis subterrâneos de Roma, à procura de Atena Partenos. Em comparação, sua jornada à caverna de Aracne parecia uma viagem à Disneylândia. Os sons das discussões dos filhos de Nix foram ficando mais distantes. Isso era bom. Percy ainda corria a seu lado, segurando sua mão. O que também era
bom. A distância, à frente deles, Annabeth começou a ouvir um som pulsante como se fosse o eco das batidas de seu coração, tão amplificado que fazia o chão tremer. O barulho a encheu de medo, então imaginou que era o caminho certo a seguir. Correu em direção ao ruído. À medida que as batidas ficavam mais altas, sentiu cheiro de fumaça e ouviu o crepitar de tochas à sua esquerda e direita. Achou que em breve haveria luz, mas um arrepio que subia por sua nuca a alertava que seria um erro abrir os olhos. — Não olhe — advertiu ela a Percy. — Não pretendia fazer isso. Você também está sentindo, certo? Ainda estamos na Mansão da Noite. Eu não quero vê-la. Garoto esperto, pensou Annabeth. Costumava provocar Percy dizendo que era burro, mas na verdade os instintos de seu namorado em geral acertavam na mosca. Quaisquer que fossem os horrores abrigados na Mansão da Noite, não eram feitos para olhos mortais. Vê-los seria pior que olhar para o rosto de Medusa. Era melhor correr no escuro. A pulsação ficou mais alta, enviando vibrações que subiam pela coluna de Annabeth. Parecia que alguém estava batendo no fundo do mundo, exigindo que o deixassem entrar. Sentiu portas se abrirem diante deles. O aroma do ar estava mais fresco, ou pelo menos não tão carregado de enxofre. Havia outro ruído, também, mais próximo do que a pulsação profunda… o som de água corrente. O coração de Annabeth se acelerou. Sabia que a saída estava por perto. Se conseguissem sair da Mansão da Noite, talvez deixassem aquela família de demônios sombrios para trás. Começou a correr mais rápido, o que teria significado sua morte se Percy não a tivesse detido.
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