quarta-feira, 18 de abril de 2018

T1 N° 711 : A CASA DE HADES

LXIII

PERCY

ATÉ ALI, O PLANO DE se camuflar com a Névoa da Morte parecia estar funcionando. Então, naturalmente, Percy esperava que alguma coisa desse muito errado no último minuto. Quando faltavam apenas dez metros para chegar às Portas, ele e Annabeth congelaram. — Ah, deuses — murmurou Annabeth. — Elas são idênticas. Percy entendeu o que ela queria dizer. Emoldurado com ferro estígio, o portal mágico era um elevador — as portas decoradas com painéis prateados e negros com desenhos art déco. Tirando o fato de as cores serem invertidas, eram exatamente iguais às dos elevadores do Edifício Empire State, a entrada do Olimpo. Ao vê-las, Percy sentiu tanta saudade de casa que perdeu o fôlego. Não sentia saudade apenas do Monte Olimpo. Sentia falta de tudo que deixara para trás: a cidade de Nova York , o Acampamento Meio-Sangue, a mãe e o padrasto. Seus olhos arderam. Não tentou falar por medo que a voz o traísse. As Portas da Morte pareciam um insulto pessoal, criadas para lembrá-lo de tudo que não podia ter. Assim que superou o choque inicial, Percy reparou em outros detalhes: o gelo que se espalhava a partir das portas, o brilho arroxeado em torno delas e as correntes que as prendiam no chão. Correntes de ferro negro pendiam das laterais do portal, como os cabos de sustentação de uma ponte suspensa. Estavam presas a ganchos fixados no solo carnoso. Os dois titãs, Crios e Hiperíon, montavam guarda próximos a eles. Enquanto Percy observava, o portal estremeceu. Um raio negro atravessou o céu. As correntes sacudiram, e os titãs pisaram com força nos ganchos para mantê-las presas. As portas do elevador deslizaram, revelando o interior dourado. Percy se preparou para avançar, mas Bob colocou a mão em seu ombro. — Espere — alertou ele. Hiperíon gritou para a multidão ao redor.
— Grupo A-22! Depressa, suas lesmas! Uma dúzia de ciclopes se aproximou, sacudindo bilhetes vermelhos e gritando de empolgação. Eles não deveriam conseguir passar pelas portas de tamanho humano, mas quando se aproximaram, seus corpos se distorceram e encolheram, e as Portas da Morte os sugaram para dentro. O titã Crios apertou com o polegar o botão SUBIR do lado direito do elevador. As portas se fecharam. O portal tornou a estremecer. O relâmpago negro se esvaiu. — Vocês precisam entender como funciona — murmurou Bob. Ele estava se dirigindo ao gatinho em sua mão, talvez para que os outros monstros não ficassem se perguntando com quem estava falando. — Cada vez que as Portas se abrem, elas tentam teletransportar para um lugar diferente. Tânatos as fez assim para que apenas ele pudesse localizá-las. Mas agora elas foram acorrentadas. As portas não conseguem sair dali. — Então precisamos cortar as correntes — sussurrou Annabeth. Percy olhou para a forma reluzente de Hiperíon. Da última vez que lutara com o titã, ele precisara de toda a sua força. E mesmo assim quase morrera. Agora tinham que enfrentar dois titãs, com milhares de monstros como reforço. — Nossa camuflagem… — disse Percy. — Ela vai desaparecer se fizermos alguma coisa agressiva, como cortar as correntes? — Não sei — disse Bob para seu gatinho. — Miau — respondeu Bob Pequeno. — Bob, você vai precisar distraí-los — disse Annabeth. — Percy e eu vamos dar a volta sem sermos vistos e cortar as correntes por trás. — Está bem — disse Bob. — Mas ainda tem um problema. Quando alguém passa pelas Portas, outra pessoa tem que ficar do lado de fora para apertar o botão e defendê-lo. Percy engoliu em seco. — Hã… defender o botão? Bob assentiu enquanto acariciava o queixo do gatinho. — Alguém precisa continuar apertando o botão SUBIR por doze minutos, ou a viagem não termina. Percy olhou para as Portas. Era verdade, Crios ainda estava apertando o botão SUBIR com o polegar. Doze minutos… De alguma forma, teriam que
afastar os titãs daquelas portas. Depois Bob, Percy ou Annabeth teria que manter o botão apertado por doze longos minutos, no meio de um exército de monstros no coração do Tártaro, enquanto os outros dois subiam para o mundo mortal. Era impossível. — Por que doze minutos? — perguntou Percy. — Não sei — disse Bob. — Por que doze Olimpianos ou doze titãs? — É, faz sentido — disse Percy, sentindo um gosto amargo na boca. — O que quer dizer com “a viagem não termina”? — perguntou Annabeth. — O que acontece com os passageiros? Bob não respondeu. A julgar por sua expressão aflita, Percy decidiu que não queria estar naquele elevador se ele ficasse parado entre o Tártaro e o mundo mortal. — Se apertarmos o botão por doze minutos — disse Percy — e cortarmos as correntes… — As Portas deverão se restaurar — disse Bob. — Pelo menos é isso que deviam fazer. Vão desaparecer do Tártaro e ressurgir em outro lugar, onde Gaia não possa usá-las… — Tânatos pode tomá-las de volta — disse Annabeth. — A morte volta ao normal, e os monstros perdem seu atalho para o mundo mortal. Percy deu um suspiro. — Molezinha. Exceto por… bem, tudo. Bob Pequeno ronronou. — Posso ficar e apertar o botão — ofereceu Bob. Uma mistura de sentimentos dominou Percy: tristeza, pesar, gratidão e culpa. Aquilo tudo pesava tanto quanto cimento em seu estômago. — Bob, não podemos pedir que faça isso. Você também quer passar pelas Portas. Quer ver o céu de novo, e as estrelas, e… — Eu ia gostar disso — concordou Bob. — Mas alguém tem que apertar o botão. E quando as correntes forem cortadas… meus irmãos vão lutar para impedir sua passagem. Não vão querer que as Portas desapareçam. Percy olhou para a horda infinita de monstros. Mesmo se deixasse Bob se sacrificar, como um único titã poderia se defender contra tantos por doze minutos sem tirar o dedo do botão? O cimento assentou dentro dele. Percy sempre desconfiara de como aquilo ia
acabar. Ele teria que ficar para trás. Enquanto Bob enfrentava o exército, Percy pressionaria o botão do elevador para garantir que Annabeth chegasse em segurança. De algum modo, tinha que convencê-la a ir sozinha. Enquanto ela estivesse a salvo e as Portas desaparecessem, ele podia morrer sabendo que tinha feito a coisa certa. — Percy…? — Annabeth o encarou, um tom desconfiado na voz. Ela era inteligente demais. Se seus olhos se encontrassem, saberia exatamente o que Percy estava pensando. — Uma coisa de cada vez — disse ele. — Vamos cortar estas correntes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário