quarta-feira, 18 de abril de 2018

T1 N° 686 : A CASA DE HADES

XXXVIII

ANNABETH

A PIOR PARTE? O drakon com certeza era a coisa mais bonita que Annabeth vira desde que caíra no Tártaro. Suas escamas tinham manchas verdes e amarelas como o chão de uma floresta coberto de folhas salpicadas de luz do sol. Seus olhos reptilianos tinham o tom verde-mar favorito de Annabeth, com os de Percy. Quando as escamas em torno da cabeça se levantaram, ela não pôde deixar de pensar que aquele monstro prestes a matá-los tinha uma aparência nobre e maravilhosa. Ele era praticamente do tamanho de um trem de metrô. Suas garras enormes afundavam na lama conforme avançava, agitando a cauda. O drakon sibilou e lançou jatos de veneno verde que fumegavam ao cair no repugnante chão lamacento e incendiavam poços de piche, o que deixou o ar com o aroma de pinho fresco e gengibre. O monstro até cheirava bem. Como a maioria dos drakons, não tinha asas, era mais longo mais parecido com uma cobra do que com um dragão. E pelo visto, estava faminto. — Bob — disse Annabeth. — O que vamos ter que enfrentar? — Um drakon maeônio — disse Bob. — Da Meônia. Outra informação super útil. Annabeth teria acertado a cabeça de Bob com sua própria vassoura se conseguisse levantá-la. — Há alguma forma de matá-lo? — Nós? — disse Bob. — Não. O drakon rugiu como se quisesse deixar isso bem claro e encheu o ar de mais veneno com cheiro de pinho e gengibre, o que teria sido um excelente perfume para aromatizadores de carros. — Leve Percy para um lugar seguro — instruiu Annabeth. — Vou distraí-lo. Não tinha ideia de como ia fazer isso, mas era sua única opção. Não podia deixar Percy morrer, não se ainda estivesse de pé. — Não precisa — disse Bob. — A qualquer momento… — ROOOOOOAAARRR! Annabeth se virou no instante em que o gigante saía de sua cabana.
Ele tinha mais de cinco metros, a altura típica de um gigante. A parte superior de seu corpo era humanoide; e as pernas, escamosas e reptilianas, como as de um dinossauro bípede. Não tinha arma. Em vez de armadura, vestia apenas uma túnica feita com peles de carneiro e retalhos de couro esverdeado. Sua pele era vermelho-cereja; a barba e o cabelo, ruivos, estavam entrelaçados com tufos de grama, folhas e flores do pântano. Ele gritou em desafio, mas felizmente não estava olhando para Annabeth. Bob a tirou do caminho quando o gigante correu na direção do drakon. Seguiu-se uma bizarra cena natalina de combate, o vermelho contra o verde. O drakon expeliu veneno. O gigante se esquivou com um salto, agarrou o carvalho e o arrancou do chão, com raízes e tudo. O crânio velho se desfez em pó quando o gigante ergueu a árvore como faria com um taco de beisebol. A cauda do drakon se enroscou na cintura do gigante e o puxou para mais perto de suas presas. Mas assim que o gigante ficou a seu alcance, enfiou a árvore na garganta do monstro. Annabeth esperava nunca mais ter que testemunhar uma cena tão horrível. A árvore perfurou a garganta do drakon e o empalou no chão. As raízes começaram a se mover e se arraigaram ao tocar o chão, fixando o carvalho de um modo tão firme que a árvore parecia estar naquele mesmo ponto havia séculos. O drakon se sacudia e estrebuchava sem parar, mas foi rapidamente imobilizado. O gigante, então, socou com toda a força o pescoço do drakon. CRACK. O monstro parou imediatamente de se mover. Começou a se desfazer e deixou apenas restos de ossos, carne e escamas, e um novo crânio de drakon passou a envolver o carvalho. Bob deu um grunhido. — Boa! O gatinho ronronou em aprovação e começou a limpar as patas. O gigante chutou os restos do drakon e os examinou com atenção. — Não tem ossos bons — reclamou. — Queria uma bengala nova. Hunf. Mas tem pele boa para a latrina. Arrancou parte das dobras de pele macia que havia em torno do pescoço do drakon e as enfiou no cinto. — Hã… — Annabeth teve vontade de perguntar se a ideia do gigante era usar
couro de drakon como papel higiênico, mas achou melhor não fazê-lo. — Bob, você podia nos apresentar? — Annabeth… — Bob deu um tapinha nas pernas de Percy. — Este é Percy. Annabeth esperava que o titã só estivesse brincando com ela, apesar de a expressão de Bob não revelar nada. Ela cerrou os dentes. — Estou falando do gigante. Você prometeu que ele ia ajudar. — Prometeu? — O gigante deixou de lado o crânio e voltou sua atenção para Bob. Seus olhos se apertaram sob as sobrancelhas densas e ruivas. — Uma promessa é algo importante. Por que Bob prometeria que eu ia ajudar? Bob pareceu desconfortável. Titãs eram assustadores, mas era a primeira vez que Annabeth via um deles ao lado de um gigante. Em comparação ao matador de drakons, Bob parecia um filhotinho desamparado. — Damásen é um gigante bom — disse Bob. — Ele é pacífico. E sabe curar venenos. Annabeth observou o gigante Damásen, que agora estava arrancando pedaços de carne sangrenta da carcaça do drakon com as próprias mãos. — Pacífico. É, estou vendo. — Carne boa para o jantar. — Damásen se aprumou e estudou Annabeth como se ela fosse outra fonte de proteína em potencial. — Entrem. Hoje vamos ter ensopado. Depois falamos dessa promessa.

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